Direito de Família na Mídia
Projetos levam Kung Fu e artes a crianças de abrigos
06/05/2007 Fonte: TJMSIdealizado e criado há sete anos, o Projeto Padrinho continua dinâmico, surpreendendo e colhendo bons frutos. Desde o segundo semestre de 2006, duas novas iniciativas foram implantadas no âmbito do Projeto, na modalidade Padrinho Prestador de Serviços, envolvendo a utilização do Kung Fu e da Educação Artística, como forma de estimular o desenvolvimento da aprendizagem, da disciplina, da auto-estima e da convivência grupal dos abrigados.
A partir dos resultados positivos, foi elaborado um projeto de parceria e encaminhado ao Poder Executivo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, o qual acolheu a proposta. Assim, desde janeiro deste ano, a Prefeitura de Campo Grande assumiu o encargo de remunerar os professores responsáveis pelos projetos Kung Fu e Ravena (Educação Artística), para a execução dessas atividades nos três abrigos mantidos pela administração municipal (Casas Abrigo I e II, e SOS Abrigo).
Rosa Pires Aquino, Coordenadora do Projeto Padrinho, garante que os resultados já são visíveis. "Todos demonstram maior interesse para ir à escola e o comportamento melhorou". Segundo Rosa, crianças/adolescentes de outros três abrigos (Casa da Criança Peniel, Residência Protegida e Lar Lígia Hans) também recebem, como complemento à sua formação, o apoio de dois ateliês da Capital, que desenvolvem projeto semelhante ao Ravena, na área das artes.
Como existem 140 crianças/adolescentes em 11 abrigos em Campo Grande, pode-se afirmar que, somando-se as crianças dos seis abrigos atendidos por tais iniciativas, mais de 50% dos abrigados recebem algum tipo de estímulo à sua formação cidadã. Rosa afirma que a meta ainda é estender aos outros 50% esse mesmo apoio complementar, o que demanda a captação de novos padrinhos.
Projeto Kung Fu
Elaborada em parceria com a Associação Sul-mato-grossense de Kung Fu, por meio do presidente da entidade, Dirceu Coelho, a proposta do projeto não se limita ao ensino das técnicas dessa milenar arte marcial, vai além, desenvolve nos jovens técnicas de respiração e de relaxamento, essenciais à conquista do equilíbrio, de uma melhor convivência em sociedade e à manutenção da auto-estima elevada. O grupo também discute temas ligados à sexualidade, drogas lícitas e ilícitas. "É um trabalho de reeducação, desenvolvendo a disciplina dos adolescentes", garante Rosa.
O instrutor do projeto, Wanderson Bonifácio da Silva, também lembra que o Kung Fu ajuda a desenvolver o caráter da pessoa e melhora as condições gerais de saúde. "O Kung Fu trabalha muito com meditação e respiração, o que aumenta a resistência física, retira a ansiedade e previne contra doenças, além de ajudar na aquisição do respeito". Em junho, acrescenta, a idéia é levar os jovens a Nova Andradina (MS) a fim de participarem de um torneio para iniciantes.
Projeto Ravena
Apresenta os mesmos objetivos gerais do Kung Fu, além de ser um projeto de cunho científico e que visa, por meio da expressão artística, estimular todos os sentidos das crianças e adolescentes. Desenvolvido e executado pela arte-educadora Ravena Maria Cardoso Lopes, licenciada em Educação Artística, o projeto adota o método Arte-educação para capacitação intelectual, cujos objetivos específicos visam aumentar o desempenho mental, estimular a criatividade para resolução de problemas, trabalhar a sensibilidade e o relacionamento, eliminar o déficit de concentração, desbloquear a rigidez intelectual, combater a competição predatória e criar canais de comunicação com o interior.
A profª Ravena esclarece que tem aplicado nas crianças e adolescentes os frutos de sua pesquisa científica, seu objeto de trabalho há 16 anos, focada no "Efeito da cor no cérebro", por meio da qual garante ser possível influenciar seu público-alvo positivamente no processo de construção e valoração dos diversos signos. "A arte atua no processamento do pensamento. É como uma chave que abre as portas para que se coloquem os valores corretos, atingindo toda camada social ou cultural", diz Ravena. Dessa forma, a arte atua como um coadjuvante para auxiliar a psicologia e a pedagogia, aumentando a capacidade de sociabilização dos jovens.
A educadora esclarece que as crianças/adolescentes abrigados, normalmente, pela própria condição em que chegam aos abrigos, não conseguem ter uma grande capacidade de aprendizado. As artes, então, visam desbloqueá-las de traumas vivenciados anteriormente, preparando-as para receberem novas informações. "É o resgate de crianças e adolescentes por meio da arte", afirma Ravena, pois, acrescenta, "o projeto consegue trazer essas crianças para o convívio na sociedade, aumentando a capacidade intelectual delas".
A professora informa que são empregadas técnicas de colagem, desenho e pintura, tudo direcionado às necessidades específicas dos alunos e dentro de uma metodologia didática de ensino. "Já temos observado resultados positivos no comportamento das crianças/adolescentes", garante, após contar o caso de uma criança de 8 anos que, diariamente, chorava cerca de quatro horas seguidamente, chegando a salivar.
Seu histórico mostrava que se tratava de uma criança que apanhava muito da mãe, que ainda a obrigava a trabalhar. A criança não conseguia expressar seus sentimentos em palavras, apenas chorava copiosamente. Após a participação nas atividades de artes parou de chorar e já consegue conviver normalmente com as outras crianças do abrigo, demonstrando, concretamente, a viabilidade do projeto.
A coordenação do Projeto Padrinho ressalta a importância dos parceiros (padrinhos), sem os quais não seria possível realizar tais iniciativas. Outras informações podem ser obtidas pelos telefones: (67) 3317-3446 ou 3317-3429; ou pelo site: www.tj.ms.gov.br/projetopadrinho.